Editorial: A Tradição sofre uma derrota no Brasil

O Instituto do Bom Pastor encerrou, no domingo passado (3 de agosto de 2008), suas atividades no Brasil. A Tradição sofre um duro golpe ao perder um de seus ramos em nossa Terra de Santa Cruz, desta vez não por manobras maquiavélicas dos modernistas, mas por intrigas e querelas camufladas sob aparência de zelo.

Quem perde é a Igreja, quem perde é a causa da Restauração, quem perde são os pobres fiéis que colocaram suas esperanças no apostolado do IBP em nosso país. Quantas almas, ao tomarem conhecimento do estabelecimento do IBP em nossa Pátria, viram-se tomadas de esperança e imaginaram ter dias contados seu longíqüo (e aparentemente infindável) exílio no vale de lágrimas que são nossas paróquias infestadas pelo modernismo.

Porém, o inimigo do gênero humano, como o qualifica São Pio X, não poderia sequer imaginar um mínimo êxito pela causa da Tradição nessa nossa terra assolada pelas pestes carismáticas e marxistas. Assim, quando até mesmo os inimigos da Igreja davam sinais de resignação pelo estabelecimento definitivo do IBP no país, quando até os bispos abriam portas ao IBP, o Demônio precisava encontrar um último suspiro, sua última cartada.

E encontrou nos católicos que mais precisam do IBP: vaidade das vaidades, tudo é vaidade!

Pois o IBP não se resume a um sacerdote apenas, mas é um Instituto de Direito Pontifício que tem uma missão, dada pelo próprio Soberano Pontífice, infinitamente maior que qualquer prestígio particular. Os sacerdotes, bons ou maus, vão e vêm; a missão dada ao IBP permanece: propagar a missa tradicional e colaborar com o Santo Padre através de uma crítica construtiva aos textos do Concílio Vaticano II. Assim sendo, a simples existência do IBP em nosso país era um enorme avanço em nosso combate.

Ainda que existissem as mais árduas dificuldades e até mesmo atritos — e mesmo que não se tenha dado causa a eles — é absolutamente certo que a restauração da Igreja deve se dar através da hierarquia; fato que não exclui a colaboração dos leigos, mas os coloca num lugar de subordinação e não de comando. Daí o trabalho do IBP — e não apenas dele, mas de qualquer instituto que lute pela restauração da liturgia e da doutrina tradicional da Igreja — se tornar ainda mais necessário e indispensável. Por sinal, algo que qualquer um que tenha o mínimo de senso católico deveria reconhecer com facilidade.

E se os problemas persistissem — algo incomum quando se busca uma solução baseada nos princípios da caridade — por que não recorrer à autoridade competente? Afinal, por que não solucionar esses problemas de maneira caridosa e conforme os ditames da doutrina católica? E por que não ceder em algum ponto que não seja doutrinário, mesmo que para isso seja necessário alguma humilhação?

Non nobis, Domine, non nobis. Sed nomine tuo da gloriam!…

Hoje é dia de júbilo nas profundezas do inferno e nas casas de todos os inimigos da Igreja. Hoje é dia de luto para todo combatente que deseja, abrigado sob o Sumo Pontífice e nunca sem ele, instaurare omnia in Christo.

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Publicamos a última homilia do Abbé Roch Perrel no Brasil, veiculada na lista de e-mails do IBP-Brasil.

 

 

De: ibp-brasil@yahoogrupos.com.br
Enviada em: domingo, 3 de agosto de 2008 17:49
Assunto: [ibp-brasil] Ultimo sermao

12º Domingo depois de Pentecostes

Meus caros irmãos,

Este domingo é muito particular porque é hoje que celebro a última
Missa pública do Instituto Bom Pastor no Brasil. A meu pedido, o
Reverendo Padre Laguérie tomou a decisão de fechar a casa de formação
do IBP. O diácono Vincent e eu partiremos esta semana para a França.
Muitas razões motivaram nossa partida definitiva, mas para evitar toda
polêmica e para não ferir ninguém em particular, darei uma só razão
que concerne a muitos. Não se trata de um acerto de contas, pois aqui
não é nem o lugar nem o momento. Até porque também devo agradecer pela
ajuda financeira . A generosidade dos senhores não faltou jamais. A
questão que coloco e deixo para a meditação dos senhores é: que lugar
deve ser dado ao sacerdote numa vida cristã.

Durante esses seis meses no Brasil, tive o sentimento de que para
muitos o sacerdote é somente um distribuidor de sacramentos. Sem
dúvida, o sacerdote é o homem da Missa e da liturgia e foi para isso
que ele foi chamado por Jesus Cristo Sumo Sacerdote. E apesar de suas
fraquezas, o padre continua a obra salvífica de Jesus Cristo. Ele
infunde a vida da graça nas almas pelo sacramento do Batismo; ele
perdoa os pecados em nome de Cristo no sacramento da penitência e ele
renova, de maneira não sangrenta, o sacrifício do calvário a cada
Missa. Tantas coisas maravilhosas que somente a sabedoria de Deus
podia instituir. Somente Deus podia arriscar-se a confiar um tal
tesouro a vasos de argila. E a salvação das almas que Nosso Senhor
confiou aos seus sacerdotes é um fardo terrível e uma missão
exaltante. Mas o sacerdote não é somente isso.

Será que alguns já se perguntaram porque o sacerdote é chamado
“Padre”? Porque é preciso admitir que as palavras que empregamos têm
uma significação, correspondendo à realidade que designam. É de se
admirar, todavia, que o termo “Padre” não evoca diretamente a dimensão
sacrificial de sua obra. Ele evoca, porém, a paternidade espiritual do
sacerdote. O sacerdote é um pai porque pelos sacramentos, começando
pelo batismo, mas não somente por eles, ele infunde a vida divina nas
almas. E esta é uma das razões do celibato eclesiástico na Igreja
Romana. O Padre renuncia à paternidade natural em vista de uma mais
perfeita: a paternidade espiritual. “Ninguém há que tenha deixado
casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por
causa de mim ou por causa do Evangelho, que não receba, já neste
mundo, cem vezes mais casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com
perseguições, e no mundo vindouro a vida eterna.” (Mc X, 29-30) Esta
promessa de Jesus Cristo se realiza eminentemente no sacerdócio e na
vida religiosa, mas é preciso que seus filhos aceitem essa
paternidade, consintam a ver no Padre um verdadeiro pai para a sua
alma e, sobretudo, que tal paternidade não se exerce unicamente na
capela. É neste ponto que a atitude de alguns está errada pois
limitaram o Padre à capela, impedindo-o de ir mais além na sua
paternidade espiritual. Não quero dizer que o Padre deva dirigir tudo
nas famílias, mas muitos praticamente nunca me permitiram entrar no
seio das famílias. É para mim uma tristeza sacerdotal enorme de ver
que praticamente não os conheço. Minha alma está triste nesse dia.
Essa decisão de cessar o apostolado brasileiro não foi tomado com
alegria no coração. Não se trata nem de rancor nem de ódio, mas da
tristeza de ter batido em portas que permaneceram fechadas.
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Padre Roch Perrel
Instituto do Bom Pastor
Rua Gonçalo Pedrosa, 25
Ipiranga
04261 – 060 São Paulo – SP
Brasil